A Poética de Fragmentos


Uma Poética de Fragmentos surge como motivo para experimentação. 

Cada novo trabalho realizado a partir das gravuras da série “Sem Título”, os conteúdos pareciam se tornar mais herméticos e intimistas. A diferença entre intenção e realização me sinalizava que, por mais que os conceitos fossem claros para mim, não conseguia que eles transparecessem de imediato no corpo dos objetos artísticos que criava.
Estes conflitos me incitaram a conduzir os trabalhos à fragmentação ainda maior e mais radical. Os objetos passaram a serem criados com intuito de constituirem uma poética de fragmentos, tanto pelos interesses que a cada dia se tornavam muitos, como pelas  experimentações, que agora ocorriam em diversas técnicas e formas de expressão artística. Um complexo mecanismo de criação passou a existir, as respostas a esses estímulos eram reproduzidas em um grande quebra-cabeça hermético. A leitura sobre “O Grande Vidro”, o jogo de palavras que Duchamp fazia, as experimentações semânticas de Mira Schendel e as instalações de Beuys serviram como o combustível intelectual que seria revelado nos trabalhos “Ascese” e nos quatro fragmentos da série “Duo”.
As categorias pareciam a cada dia mais fechadas, comecei então a explorar cada vez mais os diversos tipos de linguagens artísticas e juntá-las em um só trabalho, pois cada técnica isolada limitava as possibilidades de experimentação. A alternativa mais aberta que encontrei para a apresentação de minhas idéias era o conceito de instalação ou ambientação.


A INSTALAÇÃO COMO CONCEITO CRIATIVO

 Breve histórico

Antes de explorar neste trabalho duas instalações criadas por mim, “Ascese” e “Duo”, cabe aqui uma pequena abordagem do conceito desta forma de arte e sua história, fundamentais para meu processo criativo:
A instalação teve inicio na década de 60. Nesta época, o termo “Ambientação” foi utilizado para a descrever a obra de artistas como, Claes Oldenburg, Tom Wesselmann e George Segal. Estas ambientações criavam uma interação com o espaço que circundavam. Eram uma rejeição direta as praticas tradicionais da arte, pois conduziam o espectador como parte da obra e os envolviam, através do espaço, em uma participação mais ativa. Estas ambientações, segundo Dempsey, eram “expansivas e abrangentes, funcionavam como catalisadoras de novas idéias, não receptáculos de significados fixos” (DEMPSEY, 2003, p. 247).
Depois da década de 60, a instalação se desenvolve de diversas formas e maneiras. Artistas como Joseph Beuys, Dan Flavin e alguns movimentos, como Minimalismo, Arte Povera e Arte Pop a utilizam como forte meio criativo. Como exemplo, uma das experimentações de Yves Klein expôs o espaço vazio de uma galeria e deu o nome de “O Vazio”. Duchamp pode ser um outro exemplo, como no trabalho desenvolvido durante a instalação de suas obras no museu da Filadélfia, em que planejou a instalação de suas obras seguindo um conceito onde o espaço não era apenas o lugar onde se depositavam as obras, mais era veiculo integrante do conceito. Podemos incluir aqui sua instalação “Etant Donnés: 1º A queda d’água, 2º O gás de iluminação” (1947-1966), trabalho que Duchamp realizou em segredo durante 20 anos. Esta obra no museu da Filadélfia foi feita a partir de um minucioso trabalho realizado por Anne D’Harnoncurt e Paul Matisse, que a desmontaram e transportaram as peças para a Filadélfia, onde tornaram a montá-la. O guia que utilizaram para realizar tal minucioso trabalho foi um caderno, composto por instruções precisas, diagramas e mais de 100 fotografias. Segundo Octavio Paz, “Etant Donnés é uma combinação de materiais, técnicas e formas artísticas diversas” (PAZ, 1977, p. 77).
Durante os anos 80 e 90, os artistas passam a criar uma serie de experimentações que misturavam mídias e estilos dentro de uma instalação, compostas por elementos que não parecem ter uma relação formal direta, mas o que configura sua unidade é um tema central. Durante a transição entre o século XX e XXI, a instalação se consolida como um importante gênero artístico, com vários artistas que a utilizam como veiculo de um conceito. Dempsey define que “sua própria flexibilidade e variedade de obras faz dela, porém, um termo mais geral do que especifico” (DEMPSEY, 2003, p. 250).







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