Passagem


Passagem


Partindo da influência dos procedimentos técnicos e conceituais adotados na confecção de gravuras em metal1 e de sua manipulação através de práticas pertencentes ao universo do desenho, da cor, da fotografia e dos variados recursos digitais disponíveis em alguns aplicativos para dispositivos móveis, a série Passagem aponta para possibilidades de construção da imagem, da gravura eletrônica e do múltiplo na atualidade. Por mais que a natureza desta série indique uma possível complexidade técnica como elemento constitutivo de seu "discurso", suas motivações se originam no desejo da representação da transitoriedade e da transcendência. Surgem da vontade e da necessidade de prosseguir minhas pesquisas com os meios que estão disponíveis, durante a lógica de minha mobilidade e de meu dia-a-dia.


Como ponto inicial destas "matrizes eletrônicas", são utilizados desenhos e fotografias que compõem páginas de antigos cadernos de artista, orações e registros de família, bem como arquivos depositados no computador e imagens apropriadas da nuvem.


São vínculos e veículos poéticos de tudo que está ao meu alcance, do olhar contemplativo, gráfico ou fotográfico, dirigido às plantas cultivadas por minha mãe; à radiografia de uma fratura recém adquirida. São experiências, acúmulos, resíduos do tempo, que tentam se reconfigurar como forma de resistência e busca espiritual. Gravadas como pequenas frestas de tempo, esses índices fantásticos podem revelar novas e múltiplas passagens para o existir.



1Durante a construção de uma gravura em metal, é necessário que se retire varias “provas de estado” (prova de estado em que se encontra a matriz naquele exato instante) para que a partir da análise destas provas, se possa prosseguir na construção de uma gravura e chegar ao resultado final.
Um aspecto interessante da gravura em metal é que suas técnicas envolvem processos diretos e indiretos. Sendo diretos aqueles em que se age (grava) diretamente sobre a matriz; e indiretos quando a gravação da matriz é submetida a procedimentos químicos com ácidos (mordente) ou com o auxílio de ferramentas específicas. Na impressão da gravura em metal é obrigatório o uso de uma prensa mecânica para imprimir a gravura, possibilitando assim o resultado final da estampa.

A gravura acontece em etapas, que vão do desenho, passando pela gravação e chegam impressão. A estampa final é resultado da união desses procedimentos. Portanto, concluo que este procedimento de ações por etapa foi introduzido à construção intelectual de “passagem”, como o próprio nome sugere.


P.E

 " série passagem " / O filho do Homem / Gravura Eletrônica / 2014

" série passagem " / Ele vos batizará com Espirito Santo e com fogo / Gravura Eletrônica / 2014

" série passagem " / TER / SER / Gravura Eletrônica / 2014
" série passagem " / O verbo se fez silêncio / Gravura Eletrônica / 2014

" série passagem " / Acorda pro teu ninho / Gravura Eletrônica / 2014

" série passagem " / O Semeador / Gravura Eletrônica / 2014
" série passagem " / A fé é como o lado oculto da lua / Gravura Eletrônica / 2014


" série passagem " / A fé é como o lado oculto da lua / Gravura Eletrônica / 2014


" série passagem " / A fé é como o lado oculto da lua / Gravura Eletrônica / 2014
" série passagem " / A fé é como o lado oculto da lua / Gravura Eletrônica / 2014

 série passagem " / A cura / Gravura Eletrônica / 2014


 série passagem " / O lado oculto da lua / Gravura Eletrônica / 2014



Sessões

Exploração dos Campos do Sentir
2009/ em curso
Manipulação construtiva, sessões e improvisação culinária



É um processo de trabalho em que utilizo elementos variados ligados à criação e degustação de pratos. Durante estas sessões, relações de afeto são vivenciadas pelos indivíduos participantes. A poética culinária e a intervenção em determinado espaço servem como pretextos para o convívio com outro.Campos do sentir” são ativados por cada participante durante o período de sua interação com a sessão. Sendo estas possibilidades de sentir e o contato com o outro que me levam a propor estas sessões.  

Intervenção 
“A cor que alimenta o outro”, no penetrável “Rhodislândia”, exposição
“Hélio Oiticica: Museu é o Mundo” Fórum Landi. Belém /PA, 15/04/2011









Variação de Jambu n° 1 
Manipulação construtiva - prato




À Moda de Curuçá 
Manipulação construtiva - prato



Manipulação construtiva / jogos de conceito / Fotografia







Percepções da Natureza / Sobre Morte e Vida / 2012





O que te alimenta ? / 2011







A pele do invisível


“A Pele do Invisível” de Pablo Mufarrej e Ricardo Macêdo – Museu de Arte Contemporânea Casa das Onze Janelas [Prêmio SECULT de Artes Visuais] 2010


A pele do invisível


Este trabalho propõe que prestemos atenção ao mínimo, ao ignorado e ao trivial – as camadas epidérmicas da folha, a vida dentro de uma gota de água ou as cores de uma mosca – no intuito de enfatizar as relações que mantêm e sustentam a vida dentro de um contexto biológico. Mas, quais seriam as características visuais figurativas e abstratas desses elementos? Qual seu potencial estético? Como ressignificar esses elementos através do olhar artístico?
Uma das alternativas é ampliar sua visualidade: suas formas e suas cores. Retirando-a do “invisível” e colocando-a à disposição de nossa percepção e de nossos sentidos, de forma que nosso olhar consiga abarcar o que geralmente no dia-a-dia nos é imperceptível.
O poeta Manoel de Barros dava importância às coisas aparentemente sem importância, em um poema do seu livro “retrato do artista quando coisa” ele diz:
Aprendo com as abelhas do que com os aeroplanos.

É um olhar para baixo que eu nasci tendo.

É um olhar para o ser menor, para o

insignificante que eu me criei tendo.

O ser que na sociedade é chutado como uma

barata – cresce de importância para meu olho.

Ainda não entendi por que herdei esse olhar para baixo.

Sempre imagino que venha de ancestralidades machucadas.

Fui criado no mato a prendi a gostar das

coisinhas do chão –

antes que das coisas celestiais.

Pessoas pertencidas de abandono me comovem:

tanto quanto as soberbas coisas ínfimas.


Na busca de uma percepção mais fina de elementos quase ignorados, os artistas Ricardo Macedo e Pablo Mufarrej nos convidam a uma lenta e contemplativa observação das possíveis leituras estéticas desses elementos “insignificantes”, em uma contra-mão do ritmo frenético da vida nas grandes cidades, um convite à observação e à meditação.
Ricardo Macêdo












LUGAR-COMUM

  • Museu de arte de Belém/PA de 11/12/07 à 13/01/2008. Resultado da Bolsa de Pesquisa, Experimentação e Criação Artística – Instituto de Artes do Pará – 2007.
  • FUNCAST, Castanhal /PA - Março e Abril de 2008.

LUGAR-COMUM

     O sobrevôo é a possibilidade de ver a cidade e perceber um conjunto móvel, que a cada instante oferece uma diferente cartografia. O prédio no tempo anterior não possui a mesma tonalidade, a luz que incide não é a do instante seguinte e aquele homem ou mulher que passa, se junta a outro, a outra, conduz ao desenho impermanente de um lugar-comum.
     Pablo Mufarrej percorre a cidade em idas e vindas, em trajetos circulares, à pé, de carro ou através do imaginário vôo em que lembranças tecem um presente que logo torna-se passado. O olhar de dentro é o que prevalece e se sobrepõe ao verbo, à necessidade urgente de reverter o valor do objeto e o transformar em arte.
     O segredo está no não dito, no silêncio que a caixa-objeto exige, na minúcia de cada gaveta que oferece algo recolhido, de cada porta que abre e dispõe às mãos os panos dobrados, os copos de chuva. Na outra parte escondida: a diminuta imagem, testemunha do sobrevôo, fotografias que ganham movimento ao som de Satie. Um delicado olhar acolhe a história, um tempo não vivido. Uma magenta desbotada abriga o descaso do prédio secular da madeira carcomida, do azulejo perdido.
     A sala é a paisagem citadina cercada pela pintura “mural”, pontuada por corpos escultóricos, pelo próprio corpo do artista ou daquele que transita e mais uma vez torna móvel o cenário da urbe que não mais é. Em alguma parte três caixas pretas,  três momentos a serem desvelados: sutis violências - se é que a violência pode ser sutil.
     As tensões se articulam, entremeiam-se aos santos, distribuem-se pelo caos, oferecem-se ao que há de mais tradicional: à contemplação. Os olhos que Santa Luzia conserva nas mãos são, para o artista, a representação simbólica do que precisa cegar para ver de novo. Mufarrej deseja assumir as palavras do autor do Grande Vidro: “Tudo estava se tornando conceitual, quer dizer que dependia de outras coisas que não a retina”.
     Retiniana ou não, suas pinturas, desenhos, gravuras partem de um apuro manual, de um preciosismo técnico que não se acomoda em virtuosismos, preferindo a fragmentação que faz com que a matéria-signo adquira significado flutuante. A acumulação ainda deixa turvo o que poderia ser síntese, mas independente dos excessos Pablo Mufarrej convoca o pensar, situa-se em um lugar não-comum.

Marisa Mokarzel


Cartografia de Luiz Sadeck





O mapa mostra o percurso percorrido durante a pesquisa. Os trajetos traçados em vermelho significam os lugares percorridos. Estes percursos foram realizados de várias formas, em horários distintos, alguns mais de uma vez: A parte central do núcleo, em sua maior parte, foi percorrida a pé. Os pontos coloridos são os lugares visitados, de alto interesse para a pesquisa onde objetos foram recolhidos.


Exposição Lugar Comum

Museu de arte de Belém/PA de 11/12/07 à 13/01/2008. Resultado da Bolsa de Pesquisa, Experimentação e Criação Artística – Instituto de Artes do Pará – 2007.












Páginas do caderno Lugar Comum











Caixa-objeto Nº4 A B.
Técnica: objeto (manipulação construtiva)
Dimensões: Fechada: A-122cm, L-70,5 cm, P-37,5cm
Aberta: A-159, L-135cm, P-107cm.
Ano: 2007
Fotografias: Alberto Bitar e Michel Pinho








Caixas-Objetos: nº5, nº6, nº7 e nº8.
Técnica: objeto (manipulação construtiva e apropriação)
Dimensões: Fechada: A-43cm, L-36cm, P-39, 5cm
Ano: 2007 Fotografia: Alberto Bitar





Subversão
Técnica: Pintura (acrílica, óleo e guache sobre madeira)
Dimensões: 220x160cm
Ano: 2007 
Fotografia: Michel Pinho

 












A roda da existência ou o anel da vida.
Técnica: Pintura (acrílica, óleo, guache e colagem sobre madeira)
Dimensões: 220x160cm
Ano: 2007
Fotografia: Michel Pinho

                       
  
                        








A Queda
Técnica: Pintura (acrílica, óleo e guache sobre madeira)
Dimensões: 220x160cm
Ano: 2007
Fotografia: Michel Pinho







Geometria sensível
Técnica: Pintura (acrílica e colagem).
Dimensões: 220x160cm
Ano: 2007 
Fotografia: Michel Pinho




Para todo aquele que constrói seu ninho.
Técnica: Pintura (acrílica e colagem).
Dimensões: 220x160cm
Ano: 2007 
Fotografia: Michel Pinho





Não olhe para trás.
Técnica: Escultura (corpo escútorico instalado)
Dimensões: escultura: A-150,5cm, L-100,5cm, P-51cm.
Manipulação espacial: 250X250cm.
Fotografia: Michel Pinho



Registros de Atelier 






                    Fotografias de Alberto Bitar